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Aprenda quem você é e esqueça quem é você

Em primeiro lugar gostaria de desculpar-me o atraso de uma semana, isso ocorreu devido a uma grande transformação em minha vida. Nada demais, somente mudança de casa hehehehehehe, mas dá um trabalho... Até tudo ficar em ordem do jeito que você quer... vai tempo e para ajudar, estava eu desconectada, pois até a querida NET instalar... bem, não ficarei delongando mais minhas peripécias domésticas e ir para o que interessa.

O que me leva a escrever esta semana é sobre o budismo. Depois de muitos ensaios finalmente fui ao templo budista (do lado de casa) para a prática de Zazen. O que vou falar pode não ser novidade para muitos, mas acho bacana mostrar minhas impressões.

Noite de quarta, friooooooooo, correndo e atrasada, toda coberta de casaco, boina, blusa, bolsa... chego ao templo, encontro um senhor de origem afro que gentilmente instrui-me, solicitando que eu tire os sapatos, me calça chinelos e posiciona-me ao lado da pessoa que estava em pé juntamente de uma fila de pessoas na mesma posição. Se não estou enganada esta posição chama-se "sachô", fico lá em pé e mais pessoas chegam. Depois de um tempo fazemos a saudação "gashô" e iniciamos o Zazen. Tudo muito meticulado, planejado, organizado e muito silêncio. Cada um senta no zafu e na posição semi lótus virados para a parede iniciamos o Zazen. Como eu já havia feito uma vez com meu sensei de shiatsu, não estranhei tanto, mas mesmo assim é algo para se pensar, pois ao mesmo tempo que a sala está cheia de pessoas, você está sozinho em seus pensamentos. "Silêncio! Ninguém pode sair do Zazen, se alguêm tiver problemas de coluna que diga agora! Não olhem para o lado! Concentrem-se na sua respiração, inspire pelo nariz e solte lentamente pela boca, o ar entra frio e sai quente." Essas foram as instruções do monge. A pessoa ao meu lado pediu para sair e ficou sentada em uma cadeira, quando ela saiu, nada pensei, mas depois de um tempo senti a falta de seu calor humano e como queria uma pessoa do meu lado, pois do outro lado estava uma coluna e a imagem que respeitávamos. Começa o Zazen... pensamentos vem e vão, ZZZzzzzz opa pesquei... nossa não consigo ficar com a coluna e a cabeça ereta, como a cabeça pesa.... ai que sono..... Uuuuuaaaaaaaaa, não posso nem mexer nos olhos, ai uma lágrima saiu de meus olhos, vem escorrendo gelada, para no meio do caminho, ai que frio... mais tarde ela chega até a minha boca, nossa como está salgada... sono vai embora... e o pior nem posso olhar para o lado pra ver se só eu estou pagando esse mico... deixa eu espichar o olho de lado... hum.... ahá o cara quase do meu lado está pescando também... ufa...

Sinos tocam, todos de pé, passos lentos prestando atenção na respiração, meio passo a cada expiração, lentamente... bacana, gostei, deu uma revigorada... pois existiu momentos bem difíceis de ficar na postura. Pensei comigo, para pessoas super agitadas e ansiosas deve ser um caos... mas aí que é bom, o desafio fica maior. Começa a segunda parte do Zazen, e eu pensando que estava acabando. De repente, vem uma voz diferente falando em inglês, lembrei na hora do meu sensei de shiatsu, pois ele já havia me dito deste monge. Disse coisas bonitas, como: "Deixe seus pensamentos ... let it go..." Ele falava em inglês e o outro monge traduzia, mas ele aumentava o que o monge mor dizia. As vezes chegava a atrapalhar, nossa to metida hihihihihihihi. As palavras dele chegavam como música, era um inglês claro, com sotaque japonês, mas com uma fluência mágica. Deu-me paz, um estado de espírito presente. Essa segunda parte foi bem mais bacana, pois você já tinha uma idéia do que fazer com os pensamentos que chegavam, a primeira parte foi bem mais extensa, acho que ficamos em torno de uns 45 minutos naquela posição. E a vontade de olhar para o monge? Ai se vontade matasse... Ok, comportei-me muito bem, não fiz nada que possa envergonhar meu sensei de shiatsu.

Acaba a parte do Zazen, um por um sai em ordem e voltamos na posição inicial, todos enfileirados na posição "sachô", é onde os recados são dados pelo monge, ele fala ninguém olha pra ele, é pra olhar ou não? Quanta ansiedade dentro de mim, preciso trabalhar mais para diminuir, tentei encontrar um equilíbrio entre olhar de vez em quando e ficar olhando para o chão. "Sidharta também fazia isso. Para iniciantes venham de quarta e aos sábados, depois da quinta ou sexta vez, poderão subir, quando tiverem aprendido bem as posições, lá em cima ninguém fala com ninguém, pois o Zazen é um caminho seu, só seu. Aprenda quem você é e esqueça quem é você, esses são um dos ensinamentos do budismo." Nossa, eu quase pirei quando ele disse isso. "Depois que acabarmos, todos ajudam a arrumar a sala, os zafus ficam ali, os biombos tem rodinhas... " E lá vão todos, desconhecidos que compartilharam do zazen, a arrumar a sala, no completo silêncio. Lá ninguém está preocupado com que roupa você está, ou quem você é, não importa, pois a prática é sua e de todos ao mesmo tempo.

"Favor assinar o livro de presença e se puderem dar uma contribuição, agradecemos."

Comentários

Unknown disse…
Olá Rita, pois é, parece bem interessante mesmo... eu já passei na fente desse templo e olhei mas parecia sempre fechado... eu me sentia meio que repelido...
Eu não gosto de entrar em lugares que aparentemente querem me manter fora, é algo psicológico.
Eu já fui várias vezes, porém, no templo Zu Lai, de uma vertente chinesa bem diferente do templo citado mas um lugar muito agradável. Eu nunca fiz meditação que é feita para os visitantes, mas sempre passava um tempo sozinho no salão principal do templo ou nos jardins e me dedicava sozinho a essa prática.
Eu tenho curiosidade de conhecer esse templo, mas uma sensação inicial ruim em im sempre demora a sair...
Talvez também seja algo que eu deva compreender melhor.
Abraço \o

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